SHERNO ou memórias da guerra na Guiné |
OS PERIQUITOS
o dia 1 de Dezembro de 1970, concentrámo‑nos logo pela manhã alegremente à beira do cais com os camaradas dos 1.º e 2.º Pelotões já de malas aviadas, a esperar ansiosamente os tão desejados periquitos.
Deviam ser onze horas quando avistámos ao longe os batelões. A nossa alegria não teve limites.
Os barcos começaram a atracar e nós, sem perda de tempo, fomos ajudar os periquitos a descarregar a bagagem.
Depois ajudámos os nossos e por ali ficámos até os ver partir debaixo de uma grande manifestação de alegria.
Os periquitos, entretanto foram distribuídos pelos abrigos. Para o nosso foram destacados três madeirenses, que eram excepcionalmente bons rapazes e que para nossa sorte vinham bem fornecidos de presunto, chouriços, queijos e bom vinho da Madeira. E logo puseram tudo quanto traziam à nossa inteira disposição, para comermos e bebermos até querermos.
Todos estes bons momentos, que já no fim, os madeirenses nos proporcionaram, deixaram‑me gravado na memória agradáveis recordações.
Os dias passavam velozes e a minha Quintas estava cada vez mais triste e desolada, e já nada a conseguia animar. Os pais encontravam‑se igualmente tristes e silenciosos.
Quando eu falava para eles, sorriam‑me e baixavam a cabeça, ao mesmo tempo que encolhiam os ombros, mostrando‑me deste modo que estavam unânimes com o desgosto da filha, e ao vê‑la sofrer, sofriam tanto como ela.
Toda esta situação constrangedora me deixava triste e desolado e por momentos até me vi entre a espada e a parede.
Mas era impossível. Porque a quem eu amava verdadeiramente, era a minha mulher, e os meus filhos, e já quase enlouquecia com tantas saudades deles.
Portanto nada se podia remediar, embora eu adorasse a Quintas e também gostasse infinitamente da Huana e da Danka.