SHERNO ou memórias da guerra na Guiné

 

A REVOLTA DA QUINTAS

 

        

 

uma bela manhã logo ao romper da aurora, começo a ver a Quintas a aproximar-se.

         - Bon diá Scherno - disse ela.

         - Bon diá, Quintá. Como vai o corpitó di bó?

         - Istá jame’tum (bom). Respondeu ela.

         A Quintas vinha deslumbrante, com os seios erectos e desprovidos de qualquer ocultação, aliás como todas as mulheres andavam, simplesmente com um pano enrolado à cintura a servir de saia, para ocultar a ‘’catota’’.

         Feitos os cumprimentos não perdi tempo e comecei-lhe a lançar a escada.

         - Sábi Quintá tu é manga di gira e mim gostar muito di ti.

         - Tu também manga di giro Scherno. E mim também gostar muito di ti.

         Respondeu ela, tentando logo de seguida desviar a conversa para outro lado, dizendo:

         - Mim vai dar o roupa ao Cuxixo.

         - Está bem  disse eu:

         - Mas espera qui Cuxixo estar no durmi, durmi ! ...

         Tinha a arma em bandoleira, tirei‑a e encostei‑a à parede da entrada do abrigo. Assim já me podia movimentar melhor.

         - Quintá, - disse eu de frente para ela, ao mesmo tempo que com uma mão lhe afagava o pescoço e os cabelos, enquanto que com a outra lhe tentava acariciar um dos seios, até que num extase delirante lhe disse ao ouvido:

         - Quintá "parte-me catota". Mim gostar muito di ti! Ao mesmo tempo que suavemente a ía empurrando para a minha cama que ficava logo à entrada.

         - Mim partir‑ti a minha ‘’catota’’ Scherno ...  mas dispois os outro pissoal júbila (vê). Respondeu ela.

         - Júbila não Quintá porqui os outro pissoal estar no durmi, não ouvis êlis a rissônari!

         Disse eu.

         Os outros ouviram o que eu acabei de dizer e aceleraram a ressonação e em vez de ressonar, até parecia que estavam a descarregar uma camioneta de brita. Enquanto eu com muita paciência e meio a tremer, lá ia tentando levá-­la ao castigo. Até que a consegui deitar e rapidamente subir‑lhe a saia, o resto foi mais difícil, porque ela usava cuecas e eu vi‑me aflito para lhas tirar.

         Para mim foi a estrear, dando‑me até a sensação que tudo estava ainda intacto e com o cabaço por rebentar.

         Mal tinha começado, já o Zé Báu‑Báu (picha de aço), impaciente me batia nas costas.

         Quando acabei, ela tentou logo levantar‑se, mas os outros já estavam todos na bicha. O Zé Báu‑Báu não lhe deu tempo e saltou‑lhe logo para cima. Só que tanto ele como os outros tiveram azar, porque ela começou a estrabuchar, ao mesmo tempo que o arranhava e empurrava.

         Felizmente que ele acabou por desistir, antes que ela desatasse aos gritos, caso contrário ainda nos íamos ver todos em maus lençóis.

         A Quintas tanto lutou que acabou por se libertar das garras do Zé Báu‑Báu e assim que se apanhou fora da cama, começou a protestar com eles cheia de exaltação e cólera, enquanto eu lhe fazia cara de inocente.

         Nisto desatou a fugir com uma velocidade vertiginosa até que se perdeu por entre as tabancas.

         Passada a euforia os outros caíram em completo desalento, enquanto eu tentava esconder a minha enorme satisfação. Quando olhava para eles dava‑me uma vontade de rir tremenda, o que ia evitando a todo o custo.

         Entretanto o Cuxixo que estava deitado na cama de cima, tirou a cabeça de fora do mosquiteiro e disse:

         ‑ Mas que grande merda, foderam‑me a lavadeira e ela agora nunca mais cá aparece. Perante tal frase não aguentei mais e ri até chorar.

         - Foderam não! Disse o Maneiras.

         - Quem a fodeu foi o felizardo do Serra e segundo me parece até lhe rebentou o cabaço. Olhem práqui, o gajo tem os lençóis todos manchados de sangue.

         - Bom para já eu não lhe rebentei o cabaço. Respondi eu.

         - O que ela estava era pouco fornicada e há muito tempo que não devia ter relações sexuais. Mas disso são vocês os culpados, porque não lhe souberam dar a volta.

         - O Atamã saiu‑se com esta:

         ‑ Sabes meu grande sacana, o que tu és é um gajo bem sucedido no que diz respeito a mulheres. E vais ter de nos ensinar como é.

         - Isso é coisa que não se ensina.

         Respondi eu.

         - Porque já nasce com as pessoas, e vocês não são bem sucedidos porque ou não querem ou não têm paciência. De resto o sucesso é apenas a consequência da dedicação.

         Decepcionados, não tiveram outro remédio se não se resignarem. Embora insistissem sempre que não haviam de desistir.

         O Sol já ia alto e cada qual foi à sua vida. Como nesse dia eu ficava de plantão ao abrigo, aproveitei e fui lavar os lençóis, que estendi na parte de trás, em cima dos arbustos, evitando assim que a Huana e a Danka, suspeitassem do que quer que fosse.