SHERNO ou memórias da guerra na Guiné

 

O  1.º  ANIVERSÁRIO

 

        

 

ompletámos o nosso 1.º aniversário, doze meses já se tinham passado, embora para nós parecessem doze anos. Nesse dia, praticamente à hora do almoço, o inimigo veio-nos dar os parabéns, com um ataque curto, que durou pouco mais de quinze minutos, mas sem estragos de maior a  assinalar.

         Mas o pior podia ter acontecido com as granadas do obus, que segundo se apurou se encontravam  húmidas e por esse motivo não se elevavam à altura pretendida para atingir o objectivo. Algumas em vez de seguirem em frente seguiam para trás, indo cair na parada e nos telhados do quartel, que eram de lusalite e facilmente se partiam, vindo algumas delas cair dentro das casernas.

         Um dos criados da Messe dos Oficiais não ganhou para o susto.  Quando saía da cozinha levando uma travessa com comida para os oficiais, uma dessas granadas furou o telhado e caiu-lhe mesmo dentro da bandeja. Ele entrou em pânico e fugiu cá para fora, ao mesmo tempo que aterrorizado gritava:

         - Fujam, fujam que a granada vai rebentar.

         Por mais incrível que pareça nenhuma delas rebentou. Atribuímos esta sorte a um milagre de Deus, caso contrário muitos de nós tínhamos deixado de pertencer ao mundo dos vivos. Felizmente nada aconteceu e nós no fim rimos até quase rebentar, com o susto que o criado apanhou.

         Soube mais tarde que as granadas de obus e morteiro só se auto-armavam alguns metros depois de disparados, para não rebentarem em casos como este.