SHERNO ou memórias da guerra na Guiné

 

FINALMENTE  O  REGRESSO  A  JABADÁ

 

        

 

stávamos em Tite havia já dois meses e poucos dias, quando finalmente recebemos ordens para preparar a trouxa, que íamos regressar a Jabadá.

         Quatro meses se passaram e enquanto preparava a minha bagagem, que não era muita, porque toda cabia num saco de campanha, ía pensando como é que iria encontrar aqueles que eu mais gostava: a Huana, a Danka e o meu macaco.

         Desembarcámos em Jabadá pelo entardecer. Eu e o Bartéló fomos para o mesmo abrigo, o Fiúza foi destacado para o abrigo Vénus.

         Assim que cheguei e não vi o meu macaco, tive um pressentimento que me dizia, que nunca mais o voltaria a ver. E quando ia a perguntar por ele, o Banhas disse logo:

         - Serra, lamento muito, mas o ‘’Nilo’’ passados poucos dias de partires para Tite, fugiu e até hoje nunca mais apareceu.

         Fiquei triste e furioso ripostando contra o Banhas dizendo-lhe:

         - Se o macaco fosse teu, de certeza que tinhas mais cuidado e não o deixavas fugir mas como era meu, fugisse ou não pouco importava.

         O Banhas ficou ferido com as minhas acusações e disse:

         - Não digas isso porque estás a ser injusto, sabes muito bem que eu adorava o bicho, e nem te passa pela cabeça o que eu também sofri com o desaparecimento dele.

         - Bom o melhor é não falar mais no assunto respondi eu. O gajo se calhar arranjou para lá alguma macaca que lhe pós a cabeça andar à roda e nunca mais se lembrou de nós:

         - Hó pá! Foi isso mesmo. Respondeu o Banhas:

         - É que o gajo ultimamente andava sempre de pau-feito.

         Ri-me com vontade pela graça como ele proferiu estas palavras e disse-lhe:

         - A um macaco feito de pau, não me importo de lhe dar o cú; mas a um macaco de pau feito, vai-te foder, dá-lho tu.

         O Banhas e os outros fartaram-se rir ... mas o certo é que eu gracejei tentando dissipar a minha tristeza, sem resultado, porque o desgosto ficou e perdurou, enquanto não me conformei que do ‘’Nilo’’ nem sombras, e que nunca mais teria o prazer de lhe pôr a vista em cima.

         No dia seguinte logo pela manhã, fui visitar as minhas lavadeiras que me receberam com uma grande alegria, fazendo-me carícias e dizendo-me palavras meigas, com voz suave e nostálgica.

         O Champion tinha ido para a Bolanha, onde passava o dia, com as outras suas quatro mulheres a cultivar o arroz, deixando-nos o dia livre para passarmos algumas horas de franco convívio e pura amizade.