SHERNO ou memórias da guerra na Guiné

 

HOMEM  PREVENIDO  NÃO  É  FÁCIL  SER  COMIDO

        

        

 

rosseguimos em direcção a Tite sem nada de grave a assinalar, onde chegámos por volta do meio-dia.

         Almoçámos e da parte da tarde fomos distribuídos pelos postos avançados, ou seja abrigos iguais aos de Jabadá.

         Estranhámos e fomos ter com o alferes Souto para nos explicar o que se estava a passar. Disse-nos que tinha recebido ordens para ficarmos em Tite durante dois ou três meses.

         Mas que grande merda pensei eu furioso e que grandes sacanas que fazem das nossas vidas o que querem e o que muito bem lhes apetece ... como é triste a vida de um soldado que não tem direito à liberdade.

         Fui destacado com o Açoreano e o Seixal para um abrigo onde já se encontravam quatro operacionais que pertenciam à Companhia de Tite. Os sete passaríamos a fazer equipa e a dividir o tempo de reforço.

         Entretanto era quase noite e apareceram as lavadeiras oferecendo-se para nos lavar a roupa por 50$00 mensais. Escolhemos a mais bonita e de maior porte físico.

         O Seixal era grande e atrevido e como andava doido por sexo, atacou logo a presa dizendo:

         - Nós dar o roupa mas Bó tem de nos partir a catóta.

         Ela olhou para nós e disse para ele:

         - Mim ter de partir catóta aos trê?

         - Sim Bó tem de "aviar" os trê.

         Respondeu o Seixal.

         Ela ficou pensativa e de cabeça baixa, depois de tanto pensar decidiu-se e disse:

         - Dá o roupa que mim partir a catóta aos trê.

         Démos-lhe a roupa e viemos com ela até à tabanca prontos ao fornicanço

         Entrámos e ela começou ajeitar a tarimba que iria servir de alcova. Nisto, o Seixal todo nervoso disse:

         - Bom, é preciso deitar a moeda ao ar para ver qual é o primeiro.

         Nesse momento passou-me qualquer coisa pela cabeça, que me fez perder a vontade e disse que não queria.

         - Mas não queres porquê? Perguntou ele.

         - Porque tenho medo de apanhar alguma "escarépia".

         Respondi eu:

         - Vai bardamerda, quem tem medo é maricas! Dito isto voltou-me as costas e saltou logo p'rá cueca da "bajuda", que já o esperava deitada e de perna aberta.

         Saí, acendi um cigarro e pus-me a cogitar se havia ou não de fornicar a bajuda e, felizmente, depois de tanto meditar, acabei por decidir que não.

         Passados momentos saíram contentes e felizes da vida, dizendo que eu tinha sido um grande palerma porque a gaja era boa como o milho e ainda por cima "apertadinha". Disse-lhes que ela não me tinha dado confiança, mas que no entanto se eles não tivessem apanhado nenhuma "escarépia" eu estava a seguir.

         Passados três ou quatro dias, vieram-me dizer que estavam "encalicados".

         - A puta fodeu-nos. Olha só para esta merda, estamos lixados!...

         O Açoriano tinha apanhado "esponjas" e ficou com a cabeça da gaita cheia de borbulhas.

         O Seixal apanhou uma "mula" e nasceu-lhe um grande caroço negro na virilha direita.

         Aconselhei-os a irem rapidamente ao médico.

         Ao Açoreano foi-lhe receitado pergamanato que ele dissolvia em 1 litro de água e depois metia num copo onde introduzia a gaita, começava a dar banho à minhoca e só depois aplicava pomada terramicina.

         O Seixal meteu o cú à prova e começou logo a comer com injecções de penicilina.

         O médico disse-lhe que tinha de atacar, porque se o caroço rebentasse era mau e doloroso, porque iria fazer um buraco maior que uma caverna.

         Passados dias o Açoreano aparece com a cabeça da gaita toda esburacada como se fosse uma esponja e quando mijava parecia um regador, o mijo em vez de sair pela uretra, saía pelos buracos da cabeça da gaita.

         O Açoriano mijava e chorava, ao mesmo tempo que dizia.

         - Ainda me vai cair o caralh ... aos bocados!...

         Eu ria-me que nem um perdido e ele furioso, dizia:

         - Deus queira que um dia te aconteça o mesmo, que é para não estares a gozar!...

         E eu respondia-lhe:

         - Foda-se, antes queria enterrar-me na merda até ao pescoço. Tu é que quiseste foder e acabaste por ficar fodido, e agora revoltas-te contra mim, como se eu é que tivesse a culpa de teres de andar a regar as flores.

         A "mula" do Seixal acabou por rebentar, provocando-lhe um buraco que cabiam lá sem exagero os dedos todos de uma mão.

         Tanto o Açoreano como o Seixal sofreram um mau bocado, porque as doenças venéreas em África eram muito difíceis de sarar.

         Mas felizmente acabaram por se curar, embora tivesse levado muito tempo e bastante sofrimento, só que na mente deles ainda não estavam curados, porque psicológicamente ficaram bastante afectados.

         Passavam a vida a tirar a gaita para fora, a fim de verificarem se lhes aparecia mais alguma "mazéla ".

         A mim valeu-me o meu sexto sentido, caso contrário ficava igual eles e não me tinha livrado de pôr a "picha" de muletas.