SHERNO ou memórias da guerra na Guiné |
NATAL E ANO NOVO
hegámos à véspera de Natal e logo pela manhã aterrou na pista uma avioneta carregada de mantimentos, que fomos ajudar a descarregar.
Ao almoço distribuíram um pequeno bolo rei e um isqueiro a cada um, com o rótulo do Movimento Nacional Feminino. Os festejos Natalícios iam começar. Comemos e bebemos durante toda a tarde e a maior parte do pessoal já andava bastante alegre.
Por volta das 5,30 horas ou seja mal começou a escurecer, os cabrões vieram-nos saudar com fogo de morteiro e de canhão. Tudo levando a crer que se tinham andado a poupar para aquela noite, porque pensavam que nos iam apanhar bêbados e desprevenidos. Começaram às 5 e tal e acabaram por volta da meia-noite, atacando-nos sempre descompassadamente. Iam-se embora e passados 10 minutos ou um quarto de hora voltavam novamente à carga. Gozaram-nos a torto e a direito e não nos deixaram descansar, nem tão pouco embebedar.
Felizmente não houve baixas a assinalar e só lamentámos que os sacanas nos tivessem estragado a noite de Natal.
Entrou o novo ano de 1970. Nova Sintra estava calma e quase pacífica. Nós por ali já pouca falta fazíamos, depois de dois meses de saudável convívio e pura camaradagem, restava-nos agora a despedida.
A hora chegou e com grande mágoa e tristeza nossa e daqueles que nos viram partir. Deixámos Nova Sintra ficando para trás uma companhia de camaradas... Bons, Valentes e Honestos.