SHERNO ou memórias da guerra na Guiné |
O BANHO
ui tomar o pequeno almoço com o comandante Brito, Depois de comermos despedimo‑nos até à hora do almoço. Ele foi entrar de serviço e eu subi para o tombadilho. Como não chovia, encostei‑me curvado aos ferros de protecção e depois de acender um cigarro fiquei a contemplar distraidamente o Oceano e as suas alterosas vagas.
Nisto, há um indivíduo que se abeira da protecção e começa a deitar a carga ao mar, sem ao menos me dar tempo de fugir.
Comecei a levar com o vomitado nas trombas à força toda, pelo vento que soprava e o trazia na minha direcção, atingindo‑me a cara e o peito. Conforme estava ... assim fiquei ... Enojado. Não resisti e fiz‑lhe companhia ... começando logo de seguida a vomitar um para cada lado.
Grande sacana que me forçou a deitar os pãezinhos de leite fora, juntamente com o café e a minha boa disposição.
Quando olhei para o lado, já o cabrão tinha desaparecido sem ao menos me dar tempo de lhe ver a cara.
Depois de me aliviar, olhei-me e vi-me todo ajavardado ... e enojado, sem mais nada cá dentro para vomitar. Desci aos balneários, despi‑me e lavei‑me, tirando de seguida a maior parte da porcaria da camisa e das calças.
Como não tinha outra roupa, vesti a mesma toda encharcada e fui à casa das máquinas ter com o comandante Brito, que se desmanchou a rir com o que me aconteceu.
Levou‑me ao seu camarim e disse:
- Dispa a roupa que eu levo‑a à lavandaria. Tome lá esta toalha e vá tomar banho. Depois volte para aqui e vista este roupão, sente‑se no sofá, ou se preferir deite‑se na cama a ler estas revistas, que dentro de duas horas no máximo, eu mando que lhe venham cá trazer a roupa.
Agradeci‑lhe e depois de me entregar a chave saiu e fechou a porta.
Encontrámo‑nos à hora do almoço e ele mais uma vez ao olhar para mim riu até às lágrimas.