SHERNO ou memórias da guerra na Guiné

 

OS CIÚMES DA QUINTAS

 

        

 

assada a confusão já não me deitei, e decidi ir ao poço ter com a Quintas. Quando cheguei já ela se preparava para vir embora.

         As outras mulheres que lá se encontravam a lavar roupa, quando me viram junto a ela, começaram a rir e a lançar piropos em Criôlo.

         Eu respondia‑lhes brincando também da mesma forma, nas poucas palavras que entendia e sabia ... mas a Quintas ficava furiosa, porque não gostava muito de me ver na brincadeira com elas.

         A roupa estava já lavada e metida em duas canastras de verga. Eu peguei numa e ela noutra, Viemo‑nos embora debaixo dos risos e gargalhadas das outras, que teimavam em brincar e mandar piadas.

         A Quintas caminhava meio sisuda e pensativa. Quando chegámos a casa pôs‑se a preparar o almoço, que depois de cozinhado iria levar aos pais.

         Encostei‑me ao muro na parte de fora onde ela se encontrava acender o lume. De vez em quando olhava‑me a sorrir, mas sem pronunciar palavra.

         Esperei uma oportunidade em que ela estivesse menos atarefada e aproximei-­me. Segurei‑lhe suavemente nos braços e disse‑lhe:

         ‑ Estás zangada comigo? Porquê? Que mal é que eu te fiz?

         - Não fizeste nada Scherno. Sou eu que estou aborrecida e nada mais.

         Respondeu ela.

         Depois de lhe ter proferido com voz meiga e carinhosa, algumas palavras de amor, ela ficou mais sossegada e animada.

         Depois disse:

         - De tarde vou à pesca com os camaroeiros para o rio e se tu poderes vais comigo.

         Respondi‑lhe que às duas horas o meu pelotão saía para o mato e que por esse motivo não podia, mas logo que chegasse, por volta das cinco horas ia ter com ela.

         - Está bem Scherno. Eu a essa hora já cá estou à tua espera. Agora vai que eu tenho de me despachar.  Não te esqueças de ter muito cuidado com as minas e com todos os perigos existentes na mata.

         Beijei‑a e antes de sair disse‑lhe:

         - Tem cuidado com os jacarés.

         - Está bem, Scherno eu tenho. Fica descansado. Disse‑me ela a sorrir, ao mesmo tempo que mostrava os dentes incrivelmente brancos, que mais pareciam pérolas a brilhar e pelos quais eu sentia grande admiração e fascínio.

         Só lamentando neste caso, nunca lhe ter perguntado o segredo de manter uma dentição tão perfeita e saudável. Porque na realidade grande parte da população nativa conservava dentes impecavelmente brancos e saudáveis.