SHERNO ou memórias da guerra na Guiné |
O FIÚZA COMEÇOU A FICAR LÉ-LÉ DA CUCA
aíamos quase todas as noites para nos emboscarmos no mato e ali permanecermos até de madrugada, à espera que o inimigo aparecesse para atacar o quartel.
Numa dessas noites, vimos o inimigo a aproximar-se e antes que eles se apercebessem da nossa presença, atacámo-los de surpresa sem lhes darmos tempo de se refazerem.
Recuaram e em menos de um sopro voltaram à carga. Travou-se um combate sangrento para o lado deles, porque nós felizmente não tivemos baixas a assinalar.
O Fiúza parecia um louco, e por pouco que não estragava tudo. Pôs-se de pé e aos gritos a tentar aproximar-se deles, gritando alto e bom som.
- Venham cá seus filhos da puta!
Não levou um balázio por milagre. Tanto do lado deles como do nosso.
Ainda hoje acho que foi incrível no meio de tanta confusão ele ter escapado ileso.
Este comportamento não era normal e já com o antecedente de Nova Sintra pior ainda, porque começava a meter as nossas vidas em risco.
Quando chegámos ao quartel, o alferes Samaritano desatou a gritar com ele chamando-lhe doido, maluco, suicida que não passava de um louco, que punha as nossas vidas em perigo. Mas o Fiúza pouco ou nada lhe ligava. Respondia-lhe em monossílabas e palavras sem nexo.
O próprio capitão Capucho que segundo dava a entender até gostava dele, depois de se inteirar do que o caso era gravíssimo, começou a ficar deveras preocupado. Mas o pior estava para acontecer.