SHERNO ou memórias da guerra na Guiné

 

A  PRIMEIRA  OPERAÇÃO

 

        

 

igilosamente foi programada a primeira operação e numa noite por volta da uma hora da manhã fomos despertados com a notícia. Disseram-nos que tínhamos um quarto de hora para nos aprontarmos. "Dos segredos só revelados em cima do acontecimento dependiam os êxitos das operações".

         Prontamente nos dirigimos para o pequeno cais onde já se encontravam alguns Fuzileiros, talvez perto de 30 que iriam fazer a operação de parceria connosco, o que para nós foi uma grande surpresa e até uma grande alegria porque era a tropa mais bem instruída e a mais competente. Sobretudo aquela com que nós gostávamos mais de alinhar; faço esta observação sem querer de modo algum, menosprezar os restantes ramos das Forças Armadas.

         Embarcámos nos Zebros (barcos de borracha), que já nos esperavam e que pertenciam à Armada, seguimos rio acima talvez durante uma hora.

         Desembarcámos no silêncio da noite e rapidamente nos embrenhámos pela selva dentro. Caminhámos talvez durante duas horas. O dia começava a nascer enquanto silenciosamente nos íamos aproximando do acampamento inimigo. Chegados ao objectivo, entrámos correndo ao mesmo tempo que íamos formando um círculo à volta das barracas e em fracções de segundos começámos a disparar e a mandar granadas ofensivas para dentro das barracas, que imediatamente ateavam fogo.

         Como não tinham colocado sentinelas o inimigo foi apanhado desprevenido e devido às baixas que lhes causámos pouco tempo nos resistiram. Capturámos armamento e fizemos prisioneiros, mas o maior ronco estava para vir: galinhas, porcos, cabras e arroz às toneladas.

         Comunicámos para Bissau e prontamente enviaram barcos, mais propriamente as L.D.M., que de imediato começaram a carregar o material capturado.

         Nesse dia e no seguinte não houve descanso, foi sempre a carregar, principalmente arroz que como já disse era às toneladas.

         Fizemos um grande ronco, o primeiro a contar para o nosso palmarés e deixámos os "cabrões" desprovidos de qualquer "forragem" para se alimentarem.

         Chegámos a Jabadá exaustos e cansados. Deram-nos uma compensação; durante três dias não fizemos mais nada a não ser descansar, excepto o reforço que forçosamente tinha de tocar a todos.

         No quarto dia saímos para o mato e espantámo-nos com tanto papel pregado nas árvores com escritas dedicados aos ’’Dragões de Jabadá’’!...

         Os gajos estavam mais enfurecidos que toiros e faziam referência a tudo aquilo que lhes tínhamos roubado, inclusivamente chamavam-nos cabrões e filhos da puta ! ... Que se haviam de vingar e que nos haviam de cortar os colhões, a todos, pela raiz.

         Nem pestanejámos às ameaças deles, pelo contrário, rimos a comentar para que é que os "filhos da puta" quereriam tanto colhão.

         As ameaças caíram praticamente em saco roto e pelo contrário. eles é que nos começaram a temer, porque durante uma temporada deixaram de nos incomodar com os ataques ao aquartelamento.  O que diga-se de passagem nós até começámos a sentir saudades.