SHERNO ou memórias da guerra na Guiné

 

O  MEU  “NILO”

 

        

 

apturara o ‘’Nilo’’ numa emboscada há três meses atrás. Perante tanta confusão, gritos e tiroteio; as mães dos animais fugiam assustadas, deixando cair os filhos que mais tarde passado o perigo, viriam a recuperar, mas no caso do ‘’Nilo’’ não foi possível porque eu lhe deitei logo a mão..

         Apanhei-o caído junto a uma árvore, tão pequenino que não devia medir mais de 20 ou 30 cm - arreganhou-me os pequeninos dentes, eu agarrei-o de qualquer maneira e meti-o dentro de um dos bolsos das pernas das calças.

         Quando chegámos a Jabadá mostrei-o ao Fiúza, que logo me disse que o bicho ia morrer porque ainda mamava, eu respondi-lhe que estava enganado porque eu mesmo o iria amamentar ... riu-se e disse que queria ver...

         Ainda antes de arrumar o material que me competia, fui há cozinha e pedi uma lata de leite condensado ao meu amigo Abadesso.

         Voltei ao abrigo e calmamente fui arranjar uma borracha fina, que furei com um prego quente. Depois fui buscar uma garrafa que já tinha sido de cerveja, fiz o leite, atei a borracha com uma guita e comecei-lhe a dar o biberão, ele foi crescendo, ao mesmo tempo que eu o fui habituando aos alimentos que eu comia.

         Agora passado um mês fiquei admirado com o tamanho dele. Cresceu mais do que o dobro e já mostrava bem a sua raça de Babuíno (macaco cão), mas raramente ladrava, porque eu estava sempre a ensiná-lo para que se mantivesse calmo e silencioso.

         Arranjei um amigo fraterno que se dedicava inteiramente a mim ... obedecia e seguia por todo o lado ... metendo-se às minhas cavalitas e catando-me como se eu tivesse ‘’piolhos’’.

         Recordo-me que por vezes insistiam em fazer brincadeiras ... como por exemplo; insinuando que me queriam fazer mal, e ele encostava-se às minhas pernas como que a proteger-me, mostrando as presas que eram enormes e metiam respeito.

         Logo nesse dia lhe dei banho com o sabonete ‘’Lifeboy’’, que era desinfectante e que segundo diziam o melhor contra todos os parasitas. Era o sabonete que todos nós utilizávamos ... porque também não havia outro.

         Ele por sua vez sentia-se feliz, ficando com o pêlo suave e luzidio, sendo raro o dia em que não lhe desse banho ... com todos estes cuidados, até se podia considerar um macaco felizardo.