SHERNO ou memórias da guerra na Guiné

 

"OS DRAGÕES DE JABADÁ"

 

        

 

lema do nosso Batalhão era "Somos como Somos". Mas nós não éramos muito diferentes dos outros. Só que talvez fossemos um pouco mais destemidos e responsáveis, devido à sorte de termos tido como instrutores o alferes Souto França, e o furriel Rui Cervantes.

         Sem sombra de dúvida os dois melhores peritos em Operações Especiais de toda a Guiné.

         Dois homens de muita coragem e humanidade, que sabiam transmitir os seus conhecimentos e sabedoria a todos aqueles que os rodeavam, principalmente aos soldados e à população.

         Por estes e muitos outros factos deviam ter sido condecorados ... tanto eles como o alferes Seco Camará ... mas homens como estes dispensam medalhas ou galhardetes, por serem discretos e não gostarem de se deixar enaltecer.

         O alferes Souto França: era um grande estudioso das raças e tribos da Guiné. Nas horas vagas andava pelas tabancas de bloco e lápis na mão e uma máquina fotográfica sempre pronta a disparar. Conversava com os nativos e ao mesmo tempo ia escrevendo. No final tirava-lhes fotografias, que mandava revelar em Bissau pelo Salsicha. Desta forma conseguia maravilhosas sequências dos hábitos e viveres nativos, que mostrava a todos sem excepção, dizendo que quem quisesse mais tarde as mandava fazer.

         Eu felizmente, ainda guardo uma bonita sequência dessas fotografias, que intitulei de Rituais Fúnebres, por ele cedidas na altura, e que minuciosa e atentamente conseguiu fotografar com muita arte, pois que os nativos faziam segredo dos seus rituais e cerimónias religiosas.

         Mais tarde comprou uma câmara de filmar e passou a realizador de curtas mas valiosas metragens.

         A câmara e a G-3 passaram a fazer parte do seu quotidiano, chegando a filmar nas emboscadas todos os acontecimentos dignos de registo, que por acaso se lhe deparassem.

         Já no final da comissão, quando me entregou as fotografias dos rituais fúnebres, perguntei-lhe se algum dia seria possível ver os filmes que ele realizou e onde nós afinal participámos como actores. Respondeu-me que era difícil, porque o major Fagundes pediu que lhos oferecesse para Arquivos Militares... como material de formação de novos recrutas.