SHERNO ou memórias da guerra na Guiné |
PARTIDA PARA O INFERNO
egunda-feira dia 10 de Março de 1969. Logo pela manhã foram distribuídas armas, cinturões, cartucheiras e munições.
Já equipados, armados e apetrechados de camuflado vestido, íamo-nos preparando para o que desse e viesse.
Fartos de ouvir ao longe os ataques e os rebentamentos, sabíamos bem o que nos esperava.
O Batalhão de Cavalaria 7 seguiria para o Norte afim de defender o Sector de Bula, Buba e Aldeia Formosa, para onde seguiriam portanto o Sardinha, o Pato, o alferes Madureira e muitos outros camaradas e amigos.
Nós, da Cavalaria 3 seguiríamos para o Sul onde iríamos defender o Sector de Tite, Enxudé, Nova Sintra, Fulacunda e Jabadá.
Embarcámos em batelões por volta das 14 horas. Jabadá era o nosso destino. Deixámos o rio Cacheu e seguimos rio Geba acima, o barco seguia lentamente e eu aproveitava para ir enchendo o olho com a paisagem que era linda e digna de ser admirada. As árvores debruçavam-se para dentro de água como que a fazer-nos uma vénia, com nuvens de pássaros e patos voando-lhes por cima.
Quando o barco se aproximava mais da margem eu tremia, só de pensar que se o inimigo nos atacasse éramos presa fácil, e até quem sabe, um bom manjar para as mandíbulas dos crocodilos. Mas o melhor era afastar os maus pensamentos e voltar a admirar a paisagem, o que aliás eu fazia sempre de bom grado.
O rio estreito, a vegetação, as aves exóticas às dezenas, que levantavam voo à nossa passagem como que a saudarem-nos.
Toda aquela beleza paisagística era um sonho parecendo um paraíso que os olhos vêem e admiram, mas que é muito difícil descrever.
- Jabadá!... Jabadá à vista!... Gritavam. Conforme nos íamos aproximando, ia-se avistando uma pequena muralha talvez com 20 ou 30 metros de comprimento, que servia de cais.
Na parte de cima desse cais, se assim se podia chamar, moviam-se dezenas de silhuetas, que com a aproximação confirmámos serem da população e dos "velhinhos" que nós íamos render.