UM CORTE À "ESCOVINHA"

a hora marcada, fui ter com o comandante Brito à casa das máquinas e dirigimo‑nos à messe para jantarmos.

         Como a sala onde habitualmente o fazíamos se encontrava repleta, dirigimo-­nos para outra ao lado que se encontrava quase vazia, e onde para meu azar se encontrava o  tenente Coronel Comandante do meu Batalhão a jantar, praticamente no fim da refeição.

         Eu procurei passar despercebido, mas sem querer, fui forçado a ficar em frente dele.

         O criado trouxe‑nos a refeição e começámos a comer, ao mesmo tempo que íamos conversando animadamente.

         O meu comandante olhava‑me incessantemente sem esconder a curiosidade, certamente admirado por ver um soldado raso a jantar na companhia de um Oficial da Marinha e ainda por cima em franca cavaqueira.

         Entretanto saiu, eu fiquei mais aliviado e logo contei ao comandante Brito quem era aquela personagem.

         Acabada a refeição saímos, indo ele para um lado, e eu para outro. Nisto sou abordado pelo meu comandante que me diz:

         ‑ Soldado, quero que me explique as influências que tem, para ter o privilégio de vir comer à Messe dos Oficiais!

         - Respondi‑lhe que o oficial com quem me encontrava era meu irmão e que o convite era feito por ele.

         Não satisfeito, perguntou‑me qual era a companhia a que eu pertencia, respondi-­lhe:

         - À  2484 meu Comandante.

         - Então vá cortar o cabelo e depois vá‑se apresentar ao capitão Capucho.

         - Mas que grande merda, pensei eu.

         - Agora que eu estou a três dias da "peluda" é que ele me obriga a aparecer à família com o cabelo à escovinha.

         Fiquei danado e fui procurar o capitão Capucho. Como ele nos últimos meses de comissão foi um homem excepcional, tinha a certeza que desta vez não ia fugir à regra e não me enganei.

         Depois de me ouvir disse:

         ‑ Não vais nada cortar o cabelo. Só que a partir deste momento evita que ele te veja, e quando desembarcares no Cais da Rocha, ficas junto da família e não desfilas. E em Estremoz procedes da mesma forma.

         O capitão Capucho foi um homem excepcional e eu bastante grato lhe fiquei por este acto, que sem dúvida foi simpático e compreensível.

         No outro dia antes do pequeno almoço, contei ao comandante Brito, e ele por sua vez disse que tínhamos de evitar ir para aquela sala, não fosse ele ver‑me ainda com o cabelo por cortar e por embirrice me lixasse a vida, alegando desobediência.