SHERNO ou memórias da guerra na Guiné

 

BATI O RECORDE MUNDIAL DE NATAÇÃO

 

        

 

as nem só destas brincadeiras se passava o tempo. Por exemplo, os banhos no rio eram uma constante.

         E quando os fazíamos íamos sempre juntos e nunca éramos menos de dez. Pensávamos que por sermos muitos os jacarés nos temiam e se afastavam, e deste modo, sempre tomávamos banho com menos receio de sermos atacados por algum desses temíveis alfaiates.

         Numa tarde, devíamos de ser uns quinze a refrescar os corpos, nadando e mergulhando numa grande animação. Entretanto eu afastei‑me mais para o largo, para tentar mostrar aos outros que era melhor nadador que eles, só que tive azar e apanhei o maior susto de toda a minha vida.

Chapinhava docemente nas águas do Geba, quando de repente fui alertado pelos gritos horripilantes dos que se encontravam distanciados de mim:

         - Serra ... Serra!... UM JACARÉ! Gritavam eles com todas as suas forças, enquanto outros que se encontravam fora de água, gritavam e gesticulavam com os braços.

         Fiquei aterrorizado e olhei à minha volta, precisamente na altura em que um vulto enorme e cinzento me toca numa das pernas.

         Entrei completamente em pânico e mais veloz que uma faísca, nadei com todas as minhas forças, tentando chegar à margem sem ser mordido pelo suposto jacaré. A aflição e o medo era tanto, que penso que bati o recorde mundial de natação.

         Passado o susto rimo-nos que nem uns perdidos. Afinal o suposto jacaré não era mais que o tronco de uma árvore, que lentamente descia o rio.

         Depois de reflectir muito bem sobre o sucedido, prometi a mim mesmo nunca mais me afastar para o largo, porque na próxima podia ser mesmo a sério.

         E mal por mal era preferível morrer de um tiro, que ser devorado pelas mandíbulas de um jacaré.

         Mas tudo o que tinha pensado se desvaneceu e acabou por ser sol de pouca dura porque passados três dias voltei a ter azar.

         Ao afastar‑me dos outros talvez 15 ou 20 metros, caí num remoinho que me enrolou e me fez ir ao fundo umas 2 ou 3 vezes.

         Debati‑me inutilmente com todas as minhas forças, sem resultado, porque quanto mais lutava mais era enrolado, até que felizmente me lembrei como é que se procedia num caso destes.

         Fiz o corpo morto e imediatamente fui sacudido, valendo‑me para isso a calma e os conhecimentos que tinha adquirido a este respeito, caso contrário não me tinha livrado de morrer afogado.

         Serviu‑me de emenda, porque a partir desse dia raramente tomava banho no rio e mesmo quando o fazia, nunca saía fora de pé.

         Hoje recordo horrorizado as loucuras que cometia, sem pensar e sem medir o perigo a que me expunha. Mas enfim, já tudo passou e eu tive a sorte de me safar, enquanto que muitos outros acabaram por ter azar.

         Quando somos novos não pensamos e temos a mania que somos invencíveis. O pior é quando o azar nos bate à porta e não nos sabemos desenrascar.