SHERNO ou memórias da guerra na Guiné

 

A MULHER DO FURRIEL GARRIDO PARIU UM FILHO PRETO

 

        

 

epois contaram‑me também que o furriel Garrido se tinha suicidado.

         Segundo a versão do Vasco e do João, o furriel tinha alugado uma casa em Bissau e mandado vir a mulher da Metrópole, para ali passar a viver. Enquanto ele vinha do mato nos fins de semana e nos dias de licença, para se lhe juntar.

         Entretanto, na ausência do marido, a rapariga começou a sentir-se muito só e abandonada.

         Disse então ao marido, que ia arranjar um criado preto, para lhe limpar a casa: e fazer outros serviços, tais como ir à praça e há mercearia e neste caso deixaria de trabalhar tanto.

         O marido devido à insistência dela, acabou por concordar e a rapariga passou a ter um criado preto para todo o serviço.

         Os meses foram passando e a rapariga naturalmente começou a engordar, perante a felicidade e alegria de ambos, que iriam ser pais pela primeira vez.

         A rapariga finalmente chegou ao fim do tempo de gestação. Deu entrada no Hospital Civil e lá deu à luz sem grandes dificuldades um menino.

         Entretanto, enviaram uma mensagem para o destacamento onde o furriel se encontrava e de imediato o capitão o autorizou a vir conhecer o suposto filho.

         Chegou ao hospital fora das horas da visita e foi falar com o médico que tinha assistido ao parto.

         O Médico olhou‑o e disse‑lhe:

         - Aqui há um grande equívoco. O senhor é mesmo o furriel Garrido?

         ‑ Sou sim senhor doutor. Respondeu o furriel.

         - Mas porquê tanta dúvida?

         ‑ É que a sua mulher pariu um filho preto.

         Segundo a versão contada, o médico insistiu com ele para que fosse comprovar, mas ele não quis.

         Regressou  novamente  ao  mato  e sem hesitar pôs estupidamente termo à vida, com um tiro na cabeça.

         Pessoalmente metia‑me confusão; porque é que as mulheres brancas, só tinham preferência por criados, em vez de criadas?

         Muitas vezes ouvia comentários a respeito de tais preferências e, segundo afirmavam as senhoras, os homens limpavam melhor que as mulheres,  eram muito mais eficazes e asseados.

         Isso a mim pouco me importava, uma vez que essas preferências só a elas e aos maridos diziam respeito.

         Mas uma coisa posso eu afirmar: mulher minha não teria criado preto, e muito menos para todo o serviço.